sexta-feira, 20 de março de 2009

Mulheres negras sofrem duplo preconceito


Pesquisa do IPEA derruba com dados o mito da democracia racial

A segunda edição da pesquisa Retratos da Desigualdade, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), mostra que a tentativa de construir uma democracia racial no Brasil foi falha.

De acordo com o estudo, divulgado no final de 2008, o preconceito está presente em várias situações cotidianas, de maneira explícita ou tácita. O racismo atinge áreas importantes da sociedade, como a saúde: cerca de 44,5% das mulheres negras nunca tiveram acesso ao exame clínico de mama, enquanto essa porcentagem cai para 27,3% em mulheres brancas.

A pesquisa do IPEA baseou-se no banco de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita anualmente pelo IBGE. Esses dados já mostram desigualdades entre a população brasileira. Contudo, os novos estudos do IPEA comprovaram a triste realidade da existência de uma hierarquia social que coloca homens brancos no topo e mulheres negras (vítimas de dupla discriminação), na base dessa “pirâmide social”.

A situação da mulher negra no Brasil atual reflete a realidade vivida pelo país no período de escravidão. Ela carrega a herança de um período de trevas para o povo afro-descendente. As consequências são um menor nível de escolaridade, um salário menor e possibilidades de ascensão social reduzidas.

A cor e o sexo são determinantes também – embora de maneira silenciosa – na hora da contratação para um novo emprego. A estudante de Jornalismo da Unisinos Tatiane Lima relata que já sofreu preconceito ao procurar trabalho. “Uma recrutadora me selecionou para a vaga e, quando fui encaminhada à psicóloga, ela simplesmente não quis realizar a entrevista.Percebi que não era por conta do meu currículo, porque a recrutadora ficou tremendamente constrangida.” – declara.

Quando logram a contratação, há outro obstáculo a enfrentar. Vítimas do racismo e do sexismo, as mulheres negras ocupam os piores cargos de trabalho, recebendo os menores salários em comparação aos das mulheres brancas. Segundo o estudo do IPEA, o salário médio mensal de uma mulher branca é de R$ 561,71, enquanto o das negras não chega nem a metade desse valor.

A pesquisa do IPEA serve para comprovar com dados concretos aquilo que a sociedade vive e presencia a todo momento. As desigualdades observadas persistem em diversos âmbitos da sociedade ao longo dos anos. O atual governo brasileiro mantém políticas de inclusão social – como a criação de secretarias – porém, as mudanças ainda ocorrem de maneira vagarosa, em um país onde o preconceito é velado. As ações executadas pelo governo não são suficientes para apagar um histórico de séculos de desigualdade social. Na tentativa de atingir a igualdade, o governo tenta, de maneira falha, tratar os desiguais de maneira igual, adotando de maneira permanente medidas que deveriam ser temporárias. O sistema de Cotas em universidades públicas é um exemplo claro disso. O cerne da questão não está no ensino superior, mas sim no difícil acesso ao conhecimento das classes mais baixas – compostas por negros, em sua maioria.

Mais do que um aprimoramento nas políticas de inclusão social, deve-se ter consciência de que é urgente uma reformulação de conceitos daqueles que ainda vivem com a mentalidade de séculos passados, praticando o preconceito e , como se não bastasse, deixando-o como “herança” para seus filhos, criando-os em moldes racistas e sexistas.



A empregada doméstica Doralice Muniz Barreto, vítima de preconceito em agência bancária. Reportagem completa no Portal G1

Denúncias contra crimes de racismo podem ser encaminhadas ao
Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras
Travessa Francisco Leonardo Truda, nº40 - sobreloja - Porto Alegre /RS
(51) 3286.8482 - (51)3219. 0180


Um comentário:

  1. Não sejamos hipócritas. Há sim o racismo, porém esse está diretamente ligado a diferença social. Não é um racismo gratuito, diferente de alguns países. Acho até o Brasil "bem tolerante" no que se diz respeito a mistura de raças. Todos os povos, todas as tribos. Como o próprio texto diz, a questão tem o buraco mais embaixo e vem desde a escravidão. Sugestões? Não tenho. Parecem séculos de trabalho pela frente, mas como dizem: Brasileiro não desiste nunca. Continuemos a apreciar a desigualdade social achando que a racial acabará primeiro.

    ResponderExcluir