A vasta cobertura dada ao evento fez com que os meios de comunicação associassem a atitude feminista a outros movimentos, como o da liberação sexual e o dos protestos contra a Guerra do Vietnã. O episódio, então, sairia estampado na manchete do New York Post no dia seguinte com o título de “BraBurners and Miss America” . Toda essa construção midiática contribuiu para a associação do movimento feminista com a queima de sutiãs. É lógico que o gesto foi repetido ao redor do mundo, e sutiãs passaram a ser queimados em praça pública pelos quatro cantos.
Enquanto isso, em terras tupiniquins, o movimento feminista começava a surgir em plena ascensão do autoritarismo e da repressão dos regimes militares dominantes. Outro ponto que contribuiu para o fortalecimento do movimento foi de processo de modernização que resultou em uma maior incorporação feminina ao mercado de trabalho.
Avançando algumas décadas e com a queda da censura, principalmente na televisão, a mulher passa a ser retratada de uma maneira, digamos, diferente – e nem um pouco condizente com o movimento feminista. Se outrora o alvo das militantes era a política e a sociedade patriarcal, agora o impasse se dá no campo midiático, tendo como cerne de discussão a criação da imagem estereotipada da mulher veiculada nos meios de comunicação.
As participantes concluíram que, para haver uma mídia igualitária, é necessário reunir evidências e cobrar do Estado mudanças sobre como a imagem da mulher brasileira é retratada pelos meios de comunicação. Para isso, será necessária a criação de uma rede para monitoramento e controle da imagem da mulher na mídia.
A principal questão do seminário baseou-se na disseminação de valores ideológicos pela mídia. Valores esse que, segundo as participantes, acabam influenciando mulheres a consumirem futilidades e serem escravas de ditaduras da beleza amplamente divulgadas pela televisão, principalmente. A reivindicação das feministas tem como base o fato de que a maior parte dos meios de comunicação não transmite informações necessárias e verdadeiras sobre o mundo feminino, contribuindo assim com a desigualdade de gêneros e oportunidades existentes no Brasil. Essa opinião é compartilhada no universo feminino, mesmo entre aquelas que não são militantes feministas. A advogada Maria Laura Bemfica, de Novo Hamburgo, ressalta: “Essa imagem projetada de exaltação à beleza física em detrimento da inteligência, da cultura, do conhecimento, é o que faz explodir uma geração de meninas-mulheres com a única preocupação de ser “manequins”, modelos fotográficos ou encarte da Playboy, e onde o estudo e o trabalho do mundo real são relegados a um segundo plano. “
No Seminário, estiveram representadas todas as classes e movimentos feministas. Fizeram-se presentes sindicalistas, lésbicas, negras, camponesas. Todas com o intuito de mudar a visão da mídia sobre o sexo feminino, comprometendo-se a acompanhar todo material veiculado nos meios de comunicação, coletando dados para cobrar do Estado mudanças necessárias nas grades de programação.
As informações coletadas devem ser apresentadas no final do ano durante a Conferência Nacional de Comunicação, como objetivo de orientar medidas quanto à política de concessões na radiodifusão, por exemplo. Segundo as militantes, todo veículo que não tratar a mulher de forma correta – ou seja, sem a criação de estereótipos – deve ser penalizado, podendo levar à extinção das atrações em questão - solução não totalmente viável. “É uma opção do mercado, mostrar o que o povo quer ver, e, num círculo vicioso, a mídia produz os programas e os anunciantes pagam fortunas por 30 segundos de comercial nos intervalos dessa programação. Portanto, para mudar essa mentalidade, a base seria a educação do povo, a corpo, o que é hoje, infelizmente, a realidade não só no Brasil, mas em vários outros países”, pontua Maria Laura.
Os principais alvos das críticas durante o Seminário foram as novelas, responsáveis pela padronização do comportamento através de personagens caricatas e também os programas auto denominados “femininos”, que ensinam labores domésticos como o artesanato, o crochê e a culinária. Sob a ótica feminista, tais atrações acabam por influenciar a telespectadora a desempenhar o papel de dona de casa, abdicando de uma vida social, econômica e políticamente ativa. No entanto, há quem diga que a mídia reflete a sociedade atual. O estudante de filosofia da Unisinos Jefferson Cristian é dessa opinião: “Os estereótipos evidentes, porém eufemizados, como: (mulher) objeto, consumista, submissa, impotente e inferior, não são vulgarizações da mídia, mas da sociedade, e esta interpretação acaba sendo transmitida pela mídia. O maior exemplo disto é que as mulheres são criadas brincando com bonecas para que construam o hábito de cuidar dos filhos, para que tenham vontade de ter filhos e viverem suas vidas de meras reprodutoras.”